do you wanna come walk with me?

Aí ela começou uma a uma a socar uma a uma das teclas, na raiva descarregada, raiva que sei lá de onde vinha, raiva mais sem lugar e que formigava o coração, melhor respirar. Olhou pela janela, a cidade era sua como nos sonhos, a idade era sua, a vida por aí. A bota, velha e de sempre, em pé direito e do lado da cama pedindo pra servir a que veio, mas era tarde e o dia se emendaria cedo na noite. O chapéu em cima da bolsa denunciava a chegada ainda atormentada pelo pé da bota pedinte, o grito tinha vontade mas não tinha missão, aí fica de canto, despropositado, esperando. Acho que precisava de um pouco de calor, não desses veraneios, mas um outro que nem sabe como. Fazia tempo, um bem assim considerável, que ela não escrevia. As imposições eram outras. Tinha o cabelo, os quilos pra perder, o dinheiro atrasado 4 anos pra começar a ganhar, a profissão escancarada lá fora exigindo reparo e atenção, aí foi deixando, calada uma a uma, não em ordem alfabética que de ordem não queria nem seguia, não gosto. Resolveu num dois, foi todo o parágrafo, esse sei lá se significado. E cadê que solução. Um controle maior da raiva, aquela, isso até que sim, mas aquecer que é, bom nada. O prazer de engolir a vírgula onde deveria cuspida é fato, um dia teria culhões para os acentos. Mas o aroma de insuficiência teimava em sufocar, provavelmente culpa da calça de cintura alta, mais apertada do que para construída, já dito pelos quilos a mais, prioritários na fila, não se escolhem os gostos, só mesmo as escolhas. Tinha fome, alguma coisa a gente tem que dominar, se não a necessidade o conhecimento dela. Nada geladeira dispensa. Era chegada, não trouxe nada da rua, preferiu comer nela. Uma vez ouvi dizer que dormir passa. A fome. Daqui a pouco, antes vomitar umas palavras, essas ainda dentro à espera de alguma digestão, puta gastrite, tomei omeoprazol de manhã. Ah, isso, sonhou no sofá da tarde que era puta, atendia executivos, daí um dos motivos do engasgo, detesta atitudes engravatadas. Mulher, dama, logo dessa laia? Ser puta não incomodava, a clientela sim. Ok, a coisa é selvagem lá fora e a seleção natural,  dinheiro não tem ideologia, aliás quem tem.  Executivos então. Dias antes o sonho foi de que era a nova namorada do rei Roberto. Carlos. De rainha a puta, pelo menos o onírico ainda em senso de humor. E a coisa ainda em jeito. Leu em voz alta o tudo acima, sorriu. E não é que a coisa ainda dá jeito.

2 Respostas to “do you wanna come walk with me?”

  1. Sil Says:

    Tatu, vim aqui só pra te indicar um blog, que me inspira como você me inspira!
    http://falabras.blogs.sapo.pt/

    acho que você vai gostar, como eu tô amando.

    beijo bonita!

  2. lrmontero Says:

    Soca as teclas mesmo, com vontade.
    Porque a coisa nunca deixou de dar jeito.
    E um jeito tão bom. Hum, hum.

    Besos do L., o Montero.

Deixe um comentário